Apesar
da ignorância política apregoada ao nosso povo, de sua acomodação
e da falta de disposição à luta e as reivindicações, afinal,
anos a fio fomos alcunhados de vândalos, baderneiros, inconformados,
rebeldes sem causa e outras mais, enfim tiramos a bunda do sofá,
desligamos a TV do canal da Copa e fomos a rua! Momento histórico
que vale a pena digerir em seus milímetros, por que não dizer,
apreciar em todos os seus centavos! Afinal, apesar de boa parte ainda
se questionar o porquê de tanta revolta por míseros R$ 0,20, é bom
deixar claro que foram sim estes centavos os precursores dessas
atitudes.
Não
esses centavos materializados no aumento do transporte público, mas
os centavos históricos, as migalhas “centávicas” destinadas aos
direitos pétreos de uma sociedade carente de representações a
altura de suas inquietações!
Pior
é que os centavos aqui alcunhados, também são metafóricos,
afinal, o dinheiro destinado aos pilares sociais – saúde,
educação, segurança – apesar de distante do percentual do PIB
que queremos, é proporcional ao que está sendo gasto nessa Copa, o
problema do país, não é o destino e sim o emprego dessas quantias
vultosas, na verdade, os milhões de centavos que escoavam pelo ralo
histórico da corrupção é que geraram os verdadeiros centavos da
contestação!
Centavos
que financiam as mordomias da elite política que não de agora,
nunca nos representou! Centavos esses que em nome do desenvolvimento
locupletaram pequenas oligarquias que são desde sempre as
mandatárias em seus currais eleitorais promíscuos que sitiam o
Brasil do Oiapoque ao Chuí. E até então, nós, espectadores de
luxo, assistíamos a tudo isso de camarote, enquanto a periferia
sofria na pele o desdém de fanfarrões politiqueiros.
E
essa farra engorda por baixo, mais de três gerações de desmandos e
saques, um verdadeiro extrativismo que atende pelo nome e sobrenome
de famílias “nobres” do país e seus mandatários, no poder
desde a gênese de nossa política, chancelados pela imprensa de
conveniência.
O
que entristece é ver essa parafernália histórica fermentando e
crescendo em pleno governo que deveria ter dado um basta, ter ido a
rua no auge da popularidade de Lula e jogado no ventilador toda a
podridão em vez de fazer conchavos e alianças escusas que colocaram
em xeque a idoneidade e os atributos de uma militância
ideologicamente comprometida com o altruísmo e com o bem comum.
É
esse sentimento que vem a tona quando me deparo com esses movimentos
contemporâneos, afinal, qual será o próximo ato? Por que fizemos
como os personagens de Maiakovski e nos calamos até agora? Esses
mesmos que hoje depredam, o patrimônio público que choram pelo gás,
que saem em prol de cidadania, por que não se juntaram a todos que
eram contra essa famigerada Copa antes das construções? Os bilhões
não voltarão mais!
Outro
fato que preocupa é o anonimato, afinal, o movimento não tem
líderes, e um movimento sem líderes tende a morrer de anencefalia!
Logo agora, as vésperas de um ano eleitoral onde seria possível dar
uma outra roupagem ao país, não se percebem lideranças capazes de
chancelar o início de uma retomada política!
Portanto,
qual será o produto final desse levante? Pelo que percebo querem dar
uma cara apartidária ao movimento. Pergunto-me, como assim? Sendo
apartidário não personifica uma nova liderança nem um rumo, assim
como as twitadas e várias discussões em rede, ganhará ares de um
surto autista, ou embalará campanhas políticas que não tem nenhuma
relação ou identidade com o movimento?
Quem
é o candidato das ruas? O líder dos R$ 0,20? Sim, pois não se pode
deixar que essas cenas sirvam apenas para que marqueteiros editem
cenas para exibir no programa eleitoral de candidatos que nenhuma
relação tem com o movimento! Ou estarão a serviço de candidatos
Playboys que sequer conseguem administrar sua cidade, candidatas
Ambientalistas que sumiram por três anos e voltam das cinzas com
bandeiras verdes na mão e discurso de sustentabilidade, candidatos
aliados do poder que fingem ser oposição ou mesmo servirá de
bandeira para a situação ressurgir feito Phoenix?
Espero
que não! Gostaria que todo esse barulho fosse comprado por uma nova
liderança, que embalasse os antigos sonhos de uma militância que
não desaprendeu a sonhar e que necessita de um nome, um líder, um
programa de governo para esse país, caso contrário, será
figuração, oba-oba, cara pintada, vácuo, poeira, imagem, ou pior,
uma crise mantenedora do capital.
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